segunda-feira, 19 de março de 2018

Ineficiência da polícia

"O discurso sempre foi o seguinte: 'Ah, a polícia está aqui por causa da arma'. Mas caramba, o que a gente faz com as drogas? Nunca ficou claro para o policial, e isso é uma das grandes hipocrisias que existe no Brasil, cuja vítima maior é policial e a população pobre e favelada. É uma covardia o que se faz com os policiais brasileiros. Tem um problema que é gravíssimo, um modelo policial esquizofrênico e você não tem clareza de enfrentar. Você continua apostando na perspectiva da guerra com uma polícia que está nas ruas demandada para agir e que não trabalha com investigação criminal.

A gente não tentou uma política para redução de homicídios, a gente não tem sistema, a gente tem polícias fragmentadas, e a que está na rua não investiga e vai ser empurrada pro conflito.

"A lei não dá margem para as polícias. Elas não trabalham pro cidadão, mas para o Ministério Público e para ao juiz. As nossas polícias são demandadas o tempo inteiro a transformar os conflitos em um tipo penal, numa narrativa que pode ser transformada numa denúncia que possa ser analisada por um juiz. Uma mulher, até ser espancada, ela passa por uma série de constrangimentos que muitas vezes não podem ser facilmente convertidos num tipo penal. Não adianta ela ir na delegacia e procurar a polícia. O modelo brasileiro funciona só quando tem materialidade, que é a agressão, é a ameaça, é a lesão corporal ou coisa pior. Agora, caso as polícias passem a operar como administradora do conflito, isso tem significar uma revolução completa na legislação brasileira. O poder de decisão de atuar no conflito antes que ele evolua tem que estar disponível para as polícias. E aí você precisa capacitá-las legalmente para dizer 'olha só, essa droga aqui eu estou pegando na sua mão, você ali para delegacia para vai assinar um papel e passar a prestar para a comunidade'. Algo coisa que possa resolvida em uma instância mais próxima das pessoas. Mas hoje ela trabalha dentro de uma lógica punitivista para o sistema de Justiça e não para a população".

Felipe Betim,
brasil.elpais.com

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